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“Eu não falo as coisas para agradar as pessoas”, diz Monja Coen sobre seu posicionamento político

Por Caroline Apple

“A vida é política”. Esta afirmação é feita pela Monja Coen logo no início da entrevista concedida ao portal Namastreta. A popular líder espiritual não tem receio de misturar o que muita gente acha que não se mistura: política e espiritualidade. Nas redes sociais, Monja Coen frequentemente é atacada quando faz declarações políticas progressistas ou quando abraçava a campanha Lula Livre, que pedia a soltura do ex-presidente petista. Monja Coen, inclusive, visitou Lula na prisão, em Curitiba, e ensinou a ele o Zazen, a “meditação” zen budista.

Nas redes sobram críticas, mas também há apoio aos seus posicionamentos. Porém, Monja Coen afirma que não tem acesso ao que é dito na Internet. “Eu tenho uma pessoa que cuida disso [das redes sociais] e, geralmente, ela é que me diz que tem gente reclamando, achando ruim. Mas essa pessoa também me fala que tem um grupo de pessoas me defendendo. Como tudo na vida, não dá para agradar a todos o tempo todo, como disse Abraham Lincoln, presidente dos EUA. Eu não falo as coisas para agradar as pessoas”, pontua.

Usando como exemplo o pensamento do seu companheiro de palestras e livros, o professor Mário Sergio Cortella, a monja destaca a obra “Política: Para Não Ser Idiota” para argumentar sobre a importância de participar ativamente da vida social de onde vive e como o voto religioso dialoga intimamente com esse movimento.

“Idiota é aquele que se acha separado e acha que não tem nada a ver com o grupo, com o social ou com o que está acontecendo na sua sociedade, no seu Estado, no seu país. O voto religioso é exatamente ao contrário disso. O voto não é só individual, é também social. É um voto de estar na sociedade com um olhar diferente. Um olhar de cuidado, de sabedoria, de compaixão por todos os seres. E isso inclui o engajamento político”, afirma.

E Monja Coen usa a figura de Buda para destacar como o voto religioso e o engajamento político andam juntos. “Uma das coisas que Buda faz na Índia é desconsiderar as discriminações de castas para acolher dentro da comunidade todos os tipos de pessoas em equidade, não em igualdade, ou seja, dando o mesmo valor”, conta. “Existe um monge maravilhoso vietnamita que diz que se falamos em budismo, falamos em engajamento social”, diz.

Natureza, feminicídio e abuso infantil

Quem pensa que a Monja Coen não toca em mais assuntos “espinhosos” se engana. Seu senso de justiça abrange todas as questões sociais, porém, durante a entrevista, a espiritualista destaca temas como cuidados com a natureza e crimes, como o feminicídio e o abuso infantil.

Ao falar sobre a degradação da natureza, Monja Coen cita o teólogo, cientista, professor e escritor Leonardo Boff, que destaca em artigos questões relacionadas ao aquecimento global. A monja o considera uma espécie de mentor.

“Ele me inspira a estar presente neste mundo e a me manifestar”, diz. “A Terra está aquecendo e esqueceram disso. Isso foi pauta há dois ou três anos, mas ninguém mais quer falar sobre o assunto. E nossos rios em São Paulo? Estamos cuidando? O que é esse coitadinho do rio Tietê, águas maravilhosas que poderiam estar límpidas, que poderíamos passear de barco. Ainda podemos modificar isso. Não podemos abusar de nenhuma forma de vida, humana e não humana. Isso é equidade.”

Os casos de feminicídio também estão no alvo das atenções da líder espiritual. Para Monja Coen, os crimes de feminicídio são como rupturas numa barragem, que não podem ser deixadas para “depois que o homem matar a mulher”.

“Que pense antes. Na hora que tem a primeira ruptura no relacionamento está na hora de terminar [o relacionamento] ou o homem ir fazer tratamento. Não é depois e não é só chamar a polícia. O que eu posso fazer por uma pessoa que está perturbada, que está sendo agressiva, violenta? Tem que procurar ajuda, para os dois. Porque o problema é do casal, não de um indivíduo só. Então temos que cuidar”, afirma.

Com uma preocupação latente com as crianças, em suas andanças pelo Brasil, a monja destaca o movimento que notou em alguns lugares no Nordeste, onde há campanhas contra o abuso infantil em aeroportos e hotéis. Monja Coen relembra que os abusos têm ocorrido em todas as esferas, “das casas mais ricas até as mais pobres do país inteiro”. Segundo a budista, esses assuntos estão presentes e temos que nos manifestar.

Amor e compreensão

Existe uma confusão muito grande entre ser uma pessoa compreensiva e ser conivente. Numa sociedade fundamentada no revanchismo e com apego à cultura punitivista, expressar compaixão tem despertado a ira de muitos cidadãos, que tratam logo de dizer que os Direitos Humanos só servem para defender bandido entre outras críticas.

Portanto, esses direitos básicos que visam garantir uma vida digna a todos os seres humanos têm sua base na compreensão. Monja Coen explica a diferença.

“Eu posso até compreender um assassino, um estuprador, mas eu não os aceito. Compreender não é desculpar. O fato de compreender é não odiar, não querer o extermínio, não querer a morte, mas sim projetos de transformação de inclusão de cuidado e de cura. Isso pra mim é budismo engajado.”

Monja Coen finaliza o bate-papo trazendo uma provocação sobre nossa capacidade como seres humanos e cidadãos de viver numa sociedade mais pacificada. A líder espiritual ainda indica que este caminho está no despertar da consciência.

“Será que podemos nos tornar seres mais amorosos, mais cuidadosos, através do despertar da consciência? Isso é que o budismo faz: acorda, desperta. Você é a vida da Terra. Você não vive sem as outras formas de vida. Você não vive sem pessoas que pensam diferente de você, que vivem de forma diferente de você. Todos acolhidos no seu coração, para que com sabedoria você faça escolhas”, afirma. “O livro que escrevi com o professor Cortella ‘Nem Anjos Nem Demônios’ é isso. A escolha é humana, entre virtudes e vícios, somos nós que escolhemos como estamos vivendo”, finaliza.

Obs.: Gratidão à Monja Coen por ter me dado diversas ferramentas para que eu encontrasse embaixo de tantas camadas o meu mestre interior e pudesse, entre tantas coisas, idealizar essa ferramenta de informação. Agradeço também pela aprovação dessa entrevista e pelo tempo disposto ao concedê-la e ao lê-la, desejando sucesso.

Namastretahttps://namastreta.com.br/
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