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Páginas tratam com humor universo da espiritualidade e do autoconhecimento

Por Caroline Apple

“Ninguém vai ascencionar agora. As pessoas querem se entreter”. Ouvi esta afirmação certa vez de um mago com o qual eu me consultava, discípulo de Rubens Saraceni, um médium e escritor brasileiro que fundou o Colégio de Magia Divina, tipo uma Hogwarts da vida real.

Apesar de carregar consigo a palavra mago, a magia que era feita dentro da sala era bem diferente das mostradas nos filmes. Não tinha varinha, nem palavras mágicas, nada levitando, nem chapéu pontiagudo. Éramos nos dois batendo um papo reto sobre a existência numa sala comercial na zona norte da capital paulista, acompanhados de uma máquina de café, um pequeno banheiro e as tecnologias habituais.

O Namastreta é fruto dessas conversas. Como levar temas ligados à espiritualidade e ao autoconhecimento para as pessoas “não doutrinadas”? Como colaborar para que o caminho daqueles que já sentiram o baque do despertar da consciência seja mais leve? Bom, o entretenimento pode ser uma ferramenta bastante democrática, ainda mais quando o assunto é tão segmentado.

E mais gente dessa caminhada entendeu isso e resolveu apostar no humor para tratar de temas ligados a estes universos, seja para levar autoajuda ou até mesmo para fazer críticas aos movimentos mais “emocionados” com essa jornada no astral.

Confira algumas páginas nas redes sociais que estão fazendo do humor um caminho na espiritualidade.

Insta do Shivão

Ilustração: Estéfi Machado/Reprodução/Facebook

Uma das mais famosas divindades hindus ganhou uma página no Facebook e no Instagram, chamadas Insta do Shivão, onde são publicados ‘diálogos’ entre a criadora da página, a Nic, e Shiva, que batem um papo sempre muito certeiro em simulações de conversas no WhatsApp.

Nic Rodrigues é a idealizadora da página e faz parceria com a fã de quadrinhos Christina Muhlner. Professora de yoga e jornalista, Nic queria aliar sua paixão pela escrita com a prática milenar. Foi então que nasceram os primeiros diálogos. “A ideia surgiu da minha trajetória no yoga, das minhas experiencias pessoais, minha visão de mundo”, conta a professora de yoga.

Logo as conversas entre Nic e Shivão estavam nas redes sociais e ganhando seguidores. Hoje, a conta do Instagram tem quase 360 mil seguidores e mais de seis mil no Facebook.

E os diálogos passam reto de papo místico e cheio de ensinamentos romantizados. Shivão não tem dó da Nic quando manda uma conversa franca diante dos devaneios demasiadamente humanos da amiga.

Reprodução/Facebook

Em um dos papos recentes entre os dois, a Nic pergunta: “Shivão, por que justo a mim coube ser eu?”. Sem muita paciência, Shivão responde: “Nic, sério? São seis da matina. Já tomou o seu café?”. Nic responde rapidamente: “Não”. Então o amigo indiano manda a real: “Então, segura a onda. Depooois do café, quando a alma voltar para o corpo, a gente vê isso”.

Para a idealizadora da página o humor na abordagem de temas ligados à espiritualidade e ao autoconhecimento é fundamental para “mostrar o nosso lado humano”.

O objetivo ‘escondido’ por detrás do humor é, segundo Nic, divulgar a yoga de forma lúdica, mas com embasamento filosófico também. “Quero trazer reflexão sobre a vida, sobre a espiritualidade, sobre nosso lado humano, tudo com humor e leveza”, finaliza.

Daiminho seu amiguinho

Foto: Arquivo Pessoal

O mundo do xamanismo e das medicinas da floresta ganham ares de crítica em formato de humor nas mãos do idealizador da página Daiminho seu Amiguinho. A coisa é tão pesada, que o cara que bola os memes prefere não se identificar. Poucos sabem quem ele é nesses últimos dois anos de vida da página.

Em alusão ao boneco Dollyinho, memes toscos ganham a timeline da página do Facebook, que conta com quase sete mil curtidas. E esse número não é pouco para o tipo de abordagem que é feita. Nos memes, o personagem interage com colagens de personagens da série Chaves e Chapolin em montagens que trazem referências ao que acontece nos rituais de ayahuasca.

O dono da página consagra ayahuasca há oitos anos e decidiu se inspirar nas suas próprias experiências para criar memes que têm deixado a “galera das medicinas” uma pilha em vários momentos.

O famoso “aho”, uma espécie de amém do índio, virou “arrozzzz”. A palavra “txai”, que significa “amigo”, ganhou a versão feminina “txaia”. Além disso, não é difícil ver uma tiração de sarro de misturas exóticas vendidas por aí, como rapé de kambô (pó feito com tabaco e cinzas de madeira misturado com resina de uma espécie de sapo venenoso amazônico).

Reprodução/Facebook

 “Cheguei a receber inclusive ameaças de processos e outras baboseiras, mas é fácil de observar que quem vem com uma crítica ácida é rapidamente repreendido pelos próprios seguidores que compraram a ideia.  É divertido ver o pessoal defendendo o Daiminho dos pseudoespiritualizados. Pensa comigo: se você for realmente espiritualizado porque anda se irritando com memes. Curioso, né?”, diz o criador do Daiminho.

As críticas são várias e vale passar na página e conferir para ou se identificar e ficar nervoso ou rir dessa realidade exagerada que se apresenta em alguns momentos no universo das medicinas da floresta.

“Quando eu digo, por exemplo, ‘você não é espiritualizado’, quem não é espiritualizado se identifica e vem logo mostrar seu ponto de vista, porém quem realmente é não vai dar atenção. Quem me critica é porque se encaixou direitinho no meme e se sentiu profundamente atingido”, finaliza.

Palhaçaria papo reto

Foto: Reprodução/Instagram

“O caminho do autoconhecimento é como um saco de bosta. Quando você abre não para de feder.”

Essa é uma das frases marcantes de um dos vídeos apresentados pela palhaça Zambéia, que traz reflexões sobre essa jornada rumo a nós mesmos e de eventos esotéricos e sociais que estão acontecendo no momento.

A ideia partiu de Mariana Reis Luiz, de 30 anos, de Joanópolis (Interior de SP), que desejava compartilhar com mais pessoas o funcionamento do seu universo interno e colocar em movimento as suas criações.

” Se autoconhecer nem sempre é um caminho muito agradável. Hora ou outra acabamos nos deparando com aspectos sombrios bem dificeis de serem digeridos. Por essas e outras, vejo o riso como uma ferramenta essencial. Já vi muitos corações se abrindo pelo portal do riso”, afirma.

Os feedbacks dos seguidores, segundo autora dos vídeos, são maravilhosos, mas já aconteceu de receber críticas e entrar em um processo para lidar com elas.

“A Zambéia é querida por muitas pessoas, é uma delícia. Confesso que esse carinho preenche muito meu coração e até acaba virando um combustível para continuar compartilhando essa medicina da minha alma. Mas um menino uma vez fez uns comentários em alguns vídeos da Zambéia no YouTube, tipo ‘que bosta’, claro que fui fuçar. O garoto era um adolescente que postava coisas sobre videogame. Vi que ele foi até mim só pelo impulso de disceminar ódio, mas mesmo assim mexeu comigo”, diz.

Zambéia ainda está em expansão, assim com a consciência de sua idealizadora. A palhacinha conta ainda com um pouco mais de mil seguidores em sua conta no Instagram e também no seu canal no YouTube, o Maricota Conecta, e quase dois mil seguidores no Facebook.

“Não sei muito o que esperar. Eu quero que mais pessoas conheçam a Zambéia, pois sei que mesmo virtualmente ela nos faz relaxar um poquito mais na complexidade simples da existência. A libertação está no autoconhecimento. Fazer dele um caminho leve e divertido é nosso dever”, afirma.

Namastretahttps://namastreta.com.br/
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