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Até nazista era espiritualizado

Por Caroline Apple*

Você não leu errado. Eu escrevi: Até nazista era espiritualizado. E sabe porque você provavelmente ficou chocado? Porque você carrega um conceito fechado sobre o que é ser uma pessoa espiritualizada. Conceito esse tão carregado de amarras e julgamentos como muitos dos dogmas cristãos, por exemplo, que talvez você critique, mesmo que só no seu íntimo para que ninguém veja que você, um “ser espiritualizado”, está julgando algo ou alguém.

O acesso ao astral está disponível para todos. Não só para quem carrega consigo a áurea de Madre Teresa de Calcutá. Há fortes indícios de que Hitler e seus companheiros nazistas tinha conhecimento do ocultimos. O Castelo de Wewelsburg é considerado um centro espiritual nazista. Esta edificação possui diversos símbolos, entre eles a figura do Sol Negro, que não, não é ruim porque chama negro e esbarra no seu conceito dual sobre luz e sombra, bom e ruim, ou sei lá mais qual conceito que pode até flertar com o racismo. Nem é ruim porque Hitler e seus comparsas fizeram o que fizeram.

O Sol Negro é conhecido no ocultismo por ser a fonte de tudo. É de onde tudo sai e para onde tudo volta. Quem aprender a acessar poderia adquirir “vantagens” sobre aqueles que não interagem com esse lado misterioso. É magia. E não essas dos filmes da Disney, essa que se materializa por aqui. Diante disso, quem vai dizer que estou errada ao falar que estes nazistas genocidas eram espiritualizados.

Porém, existem leis universais. Duas delas são: karma (ação e reação) e livre arbítrio.

Se o Sol Negro é a fonte de tudo, eu, na liberdade de escolha concedida a mim como ser humano, eu poderia usar como quisesse esse poder, porque a responsabilidade das ações serão minhas. Não tinha um fiscal na guarita do Sol Negro lendo a capivara do cara que chega ali para ver se ele pode beber dessa fonte ou perguntando: “Bom dia, senhor, por acaso você faz parte de algum grupo de extermínio em massa?”. Essa fonte é de todos nós. Essa conversinha de bem e mal não funciona no astral. Portanto, é de nossa responsabilidade as escolhas que fazemos quando acessamos a consciência maior, lá tem TUDO.

Porém, para o desespero de seres que se consideram espirituais dentro de seus conceitos tóxicos new age ocidentais, nesta existência humana dual o bem e o mal existem, mesmo sendo tão ilusórios quanto absolutamente tudo aquilo que chamamos de realidade. Não dá para ser seletivo. Vivemos em maya, queridos e queridas.

Negar a dualidade é desonrar a nossa experiência humana. Buscamos o caminho da espiritualidade, a interação com o astral, para que melhoremos a nossa vida aqui e não para viver no astral, como se nada aqui tivesse seu valor a ponto de ser considerado, porque “eu sou só luz”. Bom, podemos até ser, mas aqui, campeão, tu é luz e sombra. Lide com isso. Todas as vezes que alguém escolhe seguir a cartilha [inexistente] espiritual e não quem realmente é, segue endossando sua construção egoíga, mas, agora, com outra roupinha. Num exemplo prático: tirou o terno e meteu a camiseta tie-dy.

Tenho criticado o posicionamento político de muitas pessoas que tomam ayahuasca e são a favor de um governo (seja ele qual for) que prega o genocídio do povo indígena, que naturaliza o racismo e destrói a natureza. O que destoa completamente do uso de uma medicina que veio dos índios, com matéria-prima da floresta e difundida pelo Brasil por meio de uma doutrina fundada por um homem negro. Mas essas pessoas seguem como seres espirituais, porque aprenderam a interagir com o que está além dos sentidos terrenos, que aprenderam a ver mandalas coloridas e beija-flor, trocar ideia com seus guias e etc. Mas é só!

O que ele carrega em si como o ser etéreo que ele é pouco me interessa, mas as decisões políticas que ele toma, que vão de encontro ao que prega como cura, e que colocam em risco aquilo que eu também acredito como cura muito me interessam. As decisões políticas que eles tomam e colocam as pessoas em risco por causa da cor da pele, da orientação sexual e da etnia muito me interessam. Essas pessoas são meus outros ‘eus’. A omissão em tempos sombrios ganha nuances de conivência.

Portanto, a discussão não é sobre ser ou não espiritualizado, afinal, como eu falei, dependendo da ótica, até um genocida pode ser. O que nos define nessa experiência terrena são as nossas ações, não são os fractais que se formam durante uma sessão de ayahuasca, não são as entidades que descem num terreiro, não são os estados de transe que as pessoas entram rezando, não é o nirvana que você viveu com um guru na beira do Ganges.

Não existe cartilha que aborde esse conceito de forma universal. Para cada linha de estudo espiritual, “ser” espiritualizado significa uma coisa. Porém, na humanidade, criamos códigos, criamos leis, que estão sendo todos os dias desrespeitados, violados, violentados, aniquilados e tantos outros adjetivos. As pessoas estão sendo assassinadas. E quem as mata não é só quem atira.

Não estou nem aí se você se sente mais espiritualizado que alguém porque se comporta de maneira x, y ou z. Mas as escolhas que faz que impactam no coletivo é do interesse de todos. Sua carterinha de espiritualizado não tem validade nenhuma no mundo, mas suas ações sim. E para os isentões, espero que a vista esteja bonita aí de cima do alto do seu muro colorido com as cores do arco-íris grafitado com o rosto dos mestres ascencionados.



*Passado e futuro se fundem no presente permanente. Carol nasceu com uma anteninha sensível, sensibilidade essa que aumentou profundamente após mergulhar de cabeça no caminho da espiritualidade e do autorreconhecimento. Jornalista, publicitária, instrutora de meditação e mais um universo de possibilidades, Carol vai dividir suas percepções na coluna ÉterSiga no Instagram.

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