Por Nathan Fernandes
O álbum “Olorum” é um presente de Mateus Aleluia para os tempos caóticos da pandemia. “Olorum / sai do seu reino e vem nos ver / Olorum / Seu povo está cansado”, suplica Aleluia à divindade suprema da cultura iorubá.
O terceiro trabalho solo do músico — depois de “Cinco Sentidos”, de 2010, e “Fogueira Doce”, de 2017 — foi lançado em uma live, pelo canal do Sesc São Paulo, em julho.
Trata-se da primeira obra inteiramente autoral do músico de 76 anos, ex-integrante d’Os Tincoãs, revolucionário grupo baiano da década de 1970, que misturava reverberações vocais simultâneas com cânticos do candomblé. “Cordeiro de Nanã” e “Deixa a Gira Girar” estão entre seus maiores legados.
No novo trabalho, Aleluia continua sua investigação iniciada entre os anos 1980 e 2002, período no qual trabalhou como pesquisador do governo angolano, e pôde aprofundar seus estudos na música e na espiritualidade.
Os orixás, a força dos terreiros e dos atabaques permeiam toda a obra, e fazem companhia ao choro do violão de Aleluia, que surge ao lado de violoncelos, cuícas, teclados e baterias, em produção musical de Ronaldo Evangelista.
“Olorum” marca ainda o reencontro de Aleluia com o músico João Donato, depois de 40 anos.
Os cantos dos nkises (entidades do povo bantu) e voduns (divindades ancestrais de Benim) também aparecem na voz do músico, elevando a obra a uma experiência ritualística; e mostrando que, se o samba pode ser uma oração, como canta Aleluia, então é possível rezar dançando.
Assista à live de lançamento de “Olorum”
Que foto linda! Quanta precisão na apresentação desse presente que é Mateus Aleluia e sua obra, para todos os pesquisadores e buscadores da Verdade única nesse mundo de multiplicidades!
Parabéns ao site e muito obrigada!!