Início Editorias Autoconhecimento Caminho do autoconhecimento ajuda doulas no acolhimento a gestantes

Caminho do autoconhecimento ajuda doulas no acolhimento a gestantes

Por Caroline Apple

Madhuri descobriu que saber mais sobre si poderia ajudar a entender melhor as mães.
Foto: Arquivo Pessoal

A profissão de doula ganha visibilidade e destaque em tempos de busca por formas mais naturais de se trazer uma criança ao mundo. Num momento importante, único e delicado na vida de toda uma família, a doula tem o desafio de oferecer um suporte emocional que, muitas vezes, estão além do que se aprende nos cursos de doulagem.

Portanto, contratar uma doula que leva uma vida onde as práticas espirituais e de autoconhecimento estão presentes pode ser um trunfo para as mães que buscam uma completude de acolhimento nesse momento especial, abrangendo corpo, mente e alma no processo que vai do útero ao colo.  

Porém, esse acolhimento ainda é privilégio de poucas mulheres, principalmente no caso daquelas que realizam seus partos em hospitais pelo País.

Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo aponta que 25% das mulheres entrevistadas que realizaram parto na rede pública ou privada alegam ter sido vítimas de violência obstétrica, isso significa que uma em cada quatro mulheres tiveram esse momento da vida marcado por um ato de transgressão de Direitos Humanos.

Diante de um cenário como esse, o papel da doula também abrange ajudar a reduzir os índices desse tipo de violência.

E como promover uma cultura de paz sem estar em paz consigo mesmo? O caminho da expansão da consciência se apresenta como um facilitador desse processo. E é tendo dentro de si que se passa a poder promover com verdade o que sente para outras pessoas.

A doula Madhuri encontrou as portas para sua função no caminho da espiritualidade. Porém, garante que a doulagem foi quem a ajudou a aprofundar os estudos do caminho espiritual. “Ouvi uma vez um mestre espiritual dizendo que o nascimento e a morte são os maiores mistérios da vida e que poder presenciar esses momentos é um grande privilégio. Acompanhar a chegada de um ser nesse plano me faz valorizar a vida”, afirma Madhuri.

Para aprimorar os serviços que presta às mães, a doula buscou nas ferramentas de autoconhecimento meios para atender aos vários tipos de particularidades que cada gestação apresenta. “Dou aula de yoga para parto, realizo cerimônias de despedida de barriga, faço massagem, ensino Shantala [tipo de massagem feita em bebês], dou aula de yoga mãe-bebê e sou musicista. Trabalho com mantras e canções voltadas para o feminino, inspiradas em trabalhos de parto e na espera do bebê”, conta a doula, que engloba todos seus serviços no projeto Madhuri – Doce Força Feminina.

Espiritualidade e sexualidade sem tabu

A doula Ana Paula Machado defende a sexualidade na gestação como uma ferramenta de saúde da mulher, do casal e do bebê.
Foto: Arquivo Pessoal

Se engana quem pensa que a doula só fala sobre o resultado das relações sexuais, no caso, os bebês. A sexualidade é tema recorrente nas consultas prestadas pela psicóloga e doula Ana Paula Machado, que vê o parto como um “evento sexual”.

“A via é a mesma, os hormônios envolvidos são os mesmos [do que no ato sexual]. Por isso, temos casos de mulheres que sentem orgasmo na passagem do bebê pelo canal vaginal. O bebê está estimulando o clitóris durante sua descida. A assistência humanizada é fundamental para que essa mulher tenha a melhor experiência de parto possível dentro da percepção da sua libido”, explica Machado.

Mas onde entra a espiritualidade? Em tudo. Daimista há dez anos e doula há seis, Ana se tornou doula quando se espiritualizou e passou a se sensibilizar mais com as necessidades das pessoas, principalmente com a forma de nascimento das crianças e a falta de amparo das gestantes. Seu jeito mais prático e direto de tratar a sexualidade como uma questão fisiológica e necessária para a saúde da mulher e do bebê conquista aqueles que estão abertos a se livrarem do tabu que ronda o sexo, mesmo a gravidez sendo fruto dele.

“É muito comum as mulheres não quererem o parto normal porque o bebê passa pela vagina é isso lhes parece inconcebível. Dentro dos padrões sociais e religiosos, o corpo é visto como um objeto sexual e não como uma coisa natural, instintiva. Uma mulher que tem uma crença limitante em relação a sua sexualidade se sentir prazer durante o parto vai sentir muita culpa”, relata a doula.

Ana Paula também aprimorou seu olhar para sexualidade no tantra, onde relata ter se descoberto ainda mais como ser humano e mulher, fazendo com que sua abordagem se expandisse, juntamente com a expansão da sua consciência.

O silêncio como ferramenta de trabalho

Respeito às ideais e crenças veio do silêncio, segundo a doula Larissa, do Mamastê. Foto Arquivo Pessoal

O silêncio é uma prática e uma busca entre as pessoas que caminham pelas estradas da espiritualidade e do autoconhecimento. Porém, num momento da humanidade extremamente barulhento, ouvir mais e falar menos ainda é um desafio que poucos encaram.

Diante dos tabus, dúvidas e padrões sociais e religiosos que podem prejudicar a experiência da gestação e do parto, a doula Larissa Leal Gonçales, do Mamastê, opta pelo silêncio, hábito que cultiva como uma pessoa que está na caminhada do autoconhecimento, que envolve sessões esporádicas de ayahuasca.

Larissa conta que ao fazer um trabalho de escuta intenso consegue mais resultados do que horas de fala. “Trabalho com materiais que possam acessar as próprias ideias da mulher sobre esses assuntos, para que ela construa sozinha seu caminho. Incentivo a autonomia e o protagonismo. Não trago respostas prontas porque a experiência não é minha. Como vou afirmar que vai prejudicar? Parto tem seus mistérios”, diz Larissa.

E a não-ação se mostra mais uma forma de acolhimento. Respeitando as crenças e ritos das gestantes, Larissa afirma que faz parte do seu atendimento entender necessidades que tangem essas questões. “Sempre pergunto se [a gestante] tem alguma crença e se gostaria de levar algum ritual para o parto, e ajudo nisso. Já levei playlist de louvor, santa católica, velas umbandistas, abri altar budista, lembrei a pessoa de orar, cantar mantras, hinário de Daime, tudo combinado no plano de parto”, relata a doula.

Conheça mais o trabalho dessas doulas

Madhuri

Foto: Arquivo Pessoal

Madhuri – Doce Força Feminina

Spotfy

Ana Paula Machado

Foto: Arquivo Pessoal

Do Útero ao Colo

Coluna SeXtou no Namastreta

Larissa Leal Gonçales

Foto: Arquivo Pessoal

Mamastê

www.mamaste.com.br

Namastretahttps://namastreta.com.br/
Um portal sobre autoconhecimento e espiritualidade na prática para quem busca informação de qualidade sobre esses universos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimas Tretas

“A constelação familiar me ajudou a abrir mão dos meus filhos por amor”

Thauana estava apegada a ideia de que teria que sacrificar o bem-estar da família para ser a "mãe ideal"

“Não dá para preencher espaço, é preciso produzir sentido”, diz editora da Vida Simples

Ana Holanda afirma que o autoconhecimento é uma das chaves para escrever um texto afetuoso

“Eu não falo as coisas para agradar as pessoas”, diz Monja Coen sobre seu posicionamento político

Líder espiritual não foge de assuntos "espinhosos" e garante que budismo é sinônimo de posicionamento

“A força do xamanismo é maior do que a localização geográfica”, afirma Leo Artese

Xamanista garante que a prática pode ser exercida em qualquer ambiente e o que vale é o bem-estar