Início Editorias Autoconhecimento De policial a professor de ioga: conheça histórias de quem mudou de...

De policial a professor de ioga: conheça histórias de quem mudou de vida após o despertar da consciência

Por Caroline Apple

Despertar! Esse termo é usado por aqueles que após um processo de expansão de consciência (que pode se desencadear de diversas maneiras) começam a questionar seus hábitos, rotina, modo de viver, relações e toda sua forma de estar no mundo. É como se despertasse de um sonho, onde tudo deixa de ter sentido e novos significados e ressignificados são colocados em prática em busca de uma maior satisfação pessoal.

O Namastreta conta a história de três pessoas que após questionarem suas existências transformaram suas vidas, deixando para trás seus trabalhos, profissões, hábitos nocivos, comportamentos e muito mais em busca de uma vida que lhes faça mais sentido e atenda ao maior número de seres. E as mudanças são radicais.

Confira:

De policial militar a professor de Yoga

Kurt antes e depois do seu despertar da consciência. Montagem: Arquivo Pessoal

Kurt Marcel Gomes Barbosa, de 36 anos, não tinha a menor ideia do que lhe aguardava no futuro. Bom, na verdade, ninguém tem, mas, com certeza, não estava nos planos de Kurt deixar de ser policial militar para virar psicólogo e professor de Yoga.

Porém, a nova vida começava a despontar nos detalhes. Kurt conta que em 2007 cursou psicologia, mas, após formado, não se identificou com a forma de atendendimento em clínica, mas ali já despontava a vontade de ‘estudar’ esse lado mais sensível das emoções que, até de forma inconsciente, já buscava.

Em 2009, começou a questionar seu modo de vida, porém, seguia firme na corporação com um comportamento do qual hoje não se orgulha. “Eu era uma pessoa agressiva, machista, preconceituosa, voraz, sem respeito pelas mulheres. Eu tinha um comportamento na vibração da ignorância. Até minha mãe tinha medo de mim”, conta.

Em 2013, Kurt conheceu sua companheira, uma professora de Yoga, que não demorou muito para despertar no policial militar a vontade de realizar a prática milenar. Mas, mesmo assim, seu comportamento seguia ainda rígido, ríspido e violento.

O gatilho para a transformação veio da pior forma. Um acidente grave de carro em 2018 numa rodovia paulista deixou Kurt desacordado por 30 minutos, quando teve uma um acesso místico que mudou o rumo da sua história. “Tive uma experiência de quase morte. Hoje posso dizer que a morte não é o fim. Acessei conteúdos que provocaram uma forte reflexão em mim que me deram a certeza do que estou fazendo aqui. O acidente foi no dia 1 de janeiro de 2018, em 4 de janeiro embarquei para a Índia, onde fiquei 25 dias ressignificando minha vida”, relembra.

Kurt, que era militar desde os 18 anos e só de PM tinha 12 anos, percebeu que era a hora de rever seus padrões de comportamento e seu trabalho. O iogui logo passou a ser mais amoroso, acolhedor, calmo e respeitoso, atributos que ele assume que lhe faltavam em larga escala. Porém, a transição profissional foi a mais conflituosa. Filho de militar, Kurt sofreu na pele toda a rigidez, autoritarismo e desrespeito por parte de seu pai, que não concordava com a saída dele da corporação.

“Meu pai reprovou absolutamente toda a minha decisão. Ele veio com o discurso que eu ia sair [da polícia] e passar fome, que não conseguiria nada na vida, que ficaria pedindo dinheiro a ele. Meu pai me desestimulou o tempo todo e não me apoiou em nada. Tive que fazer uma quebra familiar. Me vi em todo aquele comportamento ríspido, preconceituoso e autoritário. Percebi que aquilo era tudo que eu não queria mais na vida”, diz.

Porém, a transição aconteceu. Kurt hoje dá aulas em sua escola de Yoga, a Trishula Yoga, em Guarulhos (Grande SP), além de trabalhar em dois projetos com crianças, onde garante que consegue expressar sua essência. “Diante dessa conexão pura, eu percebo que estou definitivamente no caminho certo”, finaliza o professor de Yoga, que está prestes a se tornar pai.

De jornalista à terapeuta ayurvédica

Jacqueline Guerra trocou a dinâmica da vida de jornalista por uma nova profissão que a permite estar mais tempo ao lado da filha. Foto: Reprodução/Instagram

Jacqueline Guerra, de 40 anos, tinha em emprego ótimo. Trabalhou durante 19 anos como jornalista e assessora de comunicação na área cultural. Um emprego estável e enriquecedor, porém que começava a não satisfazer mais as questões pessoais da então jornalista.

“O ritmo intenso de trabalho, com o passar dos anos, passou a pesar bastante. Fiz várias renúncias na vida pessoal, como estar com família e amigos para trabalhar nos horários em que todo mundo estava curtindo o seu lazer. Ao mesmo tempo eu estudava de forma autodidata há muitos anos sobre terapias naturais, porque eu tinha interesse em descobrir e usar essas ferramentas para a minha própria saúde. Não pensava em levar isso para o lado profissional”, conta.

Porém, Guerra explica que não houve apenas um despertar para que a maior mudança se acontecesse, e sim vários.

“Foram alguns momentos de ‘despertar’. Não teve somente um. E acho natural que venham outros. É bom a gente não acreditar totalmente que despertou e que está cômodo e confortável. Mas fui fazendo mudanças graduais na minha vida com relação à espiritualidade, alimentação, relação com o meio ambiente, além de uma vontade de romper com algumas padronizações e ‘caixinhas’.  Mas levou bastante tempo para amadurecer a ideia de fazer uma transformação mais radical”, conta.

A mudança pode ter demorado, mas quando chegou simplesmente não deixou espaço para a vida anterior que Jacqueline levava. Mas antes, o estudo das terapias naturais que era um hobby foi ficando sério e diante da percepção disso, a jornalista decidiu se graduar em naturologia. “Foram quatro anos para me preparar para a mudança de profissão. Mesmo assim, várias vezes fiquei insegura em como eu iria largar algo que já estava consolidado para algo totalmente novo”, relembra.

Mas o caminho “estava escrito”. Quando Jacqueline percebeu, ela estava inserida em um contexto que facilitava sua transição de profissão e, por fim, de vida. Então, sua gravidez veio como um fator que chancelou sua busca por transformação. “Mudei de casa, de cidade (da metrópole para a serra no meio do mato), de profissão, de emprego estável para empreender, me casei e me tornei mãe logo em seguida”, diz.

A, agora, naturóloga seguiu estudando e se aprofundou nos conhecimentos das ayurveda, medicina indiana com mais de cinco mil anos. Porém, sua paixão pelo o jornalismo a fez desenvolver um projeto que unisse o antigo e o novo momento em uma terceira história, que sentia que a completaria ainda mais.

“Criei o site da revista digital Feminino Natural para compartilhar o que venho aprendendo sobre as terapias integrativas e complementares e temas relacionados à saúde da mulher. Lá dou dicas sobre ciclo feminino, maternidade, nutrição, ecofeminismo e cosméticos naturais”, conta.

Apesar dos desafios que a mudança trouxa, Jacqueline garante que sente que fez a escolha certa. “Escolher meu ritmo de trabalho para ficar mais perto da minha filha é o presente que eu sempre sonhei. Amo cada dia mais a naturologia, a Ayurveda e os benefícios que trouxeram para a minha vida e para os meus interagentes. E ainda integrei a comunicação no meu projeto de trabalho. Nada foi em vão”, diz.

De gerente-executivo a facilitador de propósito

Felippe deixou seu cargo em uma multinacional e hoje colabora com outras pessoas que buscam seus propósitos de vida. Foto: Arquivo pessoal

O carioca Felippe Fidelis de Paiva, de 39 anos, tinha uma vida “perfeita” diante do olhar da sociedade. Funcionário de uma multinacional há oito anos, onde chegou ao cargo de gerente-executivo, e casado com uma “mulher incrível” há dez anos, Paiva seguia o script da vida moderna sem maiores problemas. Entretanto, mesmo vivendo uma vida que muitos sonham, Felippe não era feliz.

O gatilho para transformação foi o fim dessas duas relações longínguas que Felippe vivia. Seu casamento terminou na mesma semana que se desligou da empresa em que trabalhava. Não demorou muito para a depressão chegar e situações desagradáveis se desencadearem.

“Apesar da depressão e do fim das relações, eu sinto que o fato primordial para o meu despertar foi o afastamento dos meus amigos. Eu tinha muitos amigos em SP. Porém, durante o meu processo de entristecimento, que me fez perder um pouco o controle das minhas ações, ninguém ficou ao meu lado, todos se afastaram. Me vi sozinho e me senti abandonado e rejeitado por todos, então tentei o suicídio”, conta.

Por fim, a morte não chegou, não a física, mas um novo Felippe renascia diante desse desafio. Então, a reconstrução começou, porém com todas as dificuldades que uma mudança de rota implica, principalmente com a família.

“As pessoas ainda estavam conectadas com o mundo em que eu vivia, desacreditavam e não entendiam minha mudança. Elas não estão preocupadas em entender o que fez esse movimento acontecer, porque isso faz com que elas se conectem com as suas dores, então é mais fácil que nos vejam atuando no modo anterior, ganhando o dinheiro que eu ganhava antes e etc. É uma luta para superar essas questões externas, como pais que não apoiam, mas eles tem visto a minha convicção. Não tem o apoio, mas não tem mais críticas. Além disso minha, hoje, ex-namorada começa a me elogiar diante da minha segurança e confiança no caminho”, diz.

Felippe hoje se dedica a colaborar com o processo de transformação de outras pessoas por meio do projeto Ser Guiando, onde realiza um trabalho de facilitador para que outras seres encontrem seus propósitos e possam ter uma vida com mais satisfação pessoal. Além disso, o facilitador de propósito promove uma iniciativa chamada mantraterapia, na qual oferece a possibilidade para pessoas buscarem nos mantras uma ferramenta de autoconhecimento e expansão.

“Tenho conseguido levar minha vida desta maneira, mas sei que ainda uma parte em mim ainda busca as mesmas remunerações que eu tinha antes e que de alguma forma não aceita que eu possa trabalhar menos do que antes, porque eu ganhava muito, mas também trabalhava muito. A transição passa pela desconstrução de muitas crenças que o mercado imputa em mim. Mas ela é importante para eu olhar para minha carreira e compreender que tudo o que eu fiz pelas empresas que passei, hoje me colocam na condições de ser especialista na minha área, tendo diferenciais. O trabalho que faço hoje está conectado com os detalhes de toda minha história”, finaliza.

Namastretahttps://namastreta.com.br/
Um portal sobre autoconhecimento e espiritualidade na prática para quem busca informação de qualidade sobre esses universos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimas Tretas

“A constelação familiar me ajudou a abrir mão dos meus filhos por amor”

Thauana estava apegada a ideia de que teria que sacrificar o bem-estar da família para ser a "mãe ideal"

“Não dá para preencher espaço, é preciso produzir sentido”, diz editora da Vida Simples

Ana Holanda afirma que o autoconhecimento é uma das chaves para escrever um texto afetuoso

“Eu não falo as coisas para agradar as pessoas”, diz Monja Coen sobre seu posicionamento político

Líder espiritual não foge de assuntos "espinhosos" e garante que budismo é sinônimo de posicionamento

“A força do xamanismo é maior do que a localização geográfica”, afirma Leo Artese

Xamanista garante que a prática pode ser exercida em qualquer ambiente e o que vale é o bem-estar