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Tarot feminista propõem releitura do baralho através do olhar das demandas modernas das mulheres

Por Caroline Apple

Paula e Elisa são criadoras dos Nosostras Tarot. Foto: Divulgação

Aqui não tem diabo, imperador ou os amantes, mas sobra diaba, imperadora e as amantes. Ressignificar o tarot e trazer uma leitura mais contemporânea, que contemple a luta das mulheres por respeito e equidade é uma das metas do tarot feminista. E a mudança vai da apresentação das cartas até a abordagem da leitura.

A taróloga Paula Mariá e a artista Elisa Riemer são criadoras do Nosostras Tarot, um baralho “feminino e feminista” que faz uma releitura dos tarots tradicionais, como o de Marselha.

Figuras de mulheres povoam as 78 cartas que ajudam a refletir sobre os arquétipos e sobre como eles agem, existem e estão presentes na vida mulheres.

“Tarot não é só um instrumento sagrado, adivinhatório, ele também é um retrato artístico e social do seu tempo. Não é à toa que temos cartas da corte como rei, pajem, rainha, cavaleiro. Elas existem porque existiam no plano material essas figuras do imperador e da imperadora. Se você pegar o tarot em diversos contextos históricos, eles terão imagem diferentes”, conta Mariá.

A idealizadora explica que como o feminismo está presente na vida moderna é importante trazer a leitura não só no âmbito na luta feminista, mas também da realidade das mulheres de uma determinada região, para que a leitura seja mais abrangente e atue em questões práticas e que fazem parte da vida diária desta população.

“O que queremos fazer é uma nova proposta de sociedade. É trazer nosso ponto de vista como duas mulheres criadoras e brasileiras. É importante dizer isso, não é feito na Europa, que teria outra cara, outras formas, outras figuras e mulheres”, diz.

Expansão das leituras e releituras

A idealizadora do Nosostras afirma que a forma como a leitura é feita varia de taróloga para taróloga (ou tarólogo), porém como a mensagem chega para a consulente ou o consulente vai depender que como a pessoa entende o tarot e sua identificação com a mensagem.

“Existem diversas possibilidades dentro disso, mas o mais importante é que a comunicação entre o tarot e o tarólogo ou taróloga esteja alinhada, afinada, e que cada vez que pegamos um deck novo [carta] que estejamos abertos e abertas às novas ideias que eles vêm nos trazer através da arte e às novas propostas sócio-históricas apresentadas através da arte”, conta.

Então, como fazer a leitura das cartas diante de apenas figuras femininas? Fácil. Valorizando os arquétipos presentes dentro de cada um, onde feminino e masculino se fundem na construção de um ser íntegro.

Por exemplo, quando sai a carta do Imperador, agora, há a figura da Imperatriz. O que antes seria visto como a presença de um homem, de uma figura paterna, agora pode ser lido como as características deste masculino dentro do corpo de uma mulher que ocupe esse lugar de poder, de estrutura, materialidade, segurança e tudo mais que o Imperador traz como característica. “A leitura da carta não muda, ela é apenas ampliada”, diz Mariá.

Arte como processo de transformação

O Nosostras não é o primeiro tarot com essa proposta. Criado nos anos de 1980, o Motherpeace Tarot (Tarot da Mãe Paz), é um baralho de cartas de tarô inspirado no movimento da Deusa e no feminismo da época. No mundo inteiro há movimentos de mulheres propondo novas narrativas às leituras das cartas, que, segundo Mariá, só ajudam a elevar e ampliar a visão sobre o tarot.

O que chama a atenção nas cartas, sem dúvida, são as ilustrações carregadas de simbolismos e com toques personalizados de acordo com a criatividade da artista ou artista em questão. E isso vale até mesmo para quem tem pouca “intimidade” com a atividade holística.

A artista visual Luiza Lucena Morgado lembra que seu primeiro contato com o baralho foi um tanto “apavorante” diante da tirada da carta A Torre (considerada uma carta de forte transformação e rupturas). Porém, isso não a impediu de deslumbrar a beleza das imagens do tarot Rider-Waite.

“Me encantei pelas imagens do tarot, pela quantidade de linhas, texturas e cores e pela ideia de que cada informação contida ali tinha uma potencialidade enorme que eu não conseguia alcançar, assim como a Torre. Imaginar que modificar um símbolo podia trazer novas leituras era divertido”, conta Luiza.

Então, mesmo sem a tal “intimidade”, a artista passou a selecionar as cartas pela ilustração e, a partir daí, procurou ler e se informar sobre elas.

“A primeira carta foi O Mundo, que foi uma das primeiras vezes que fiz uma gravura. Gostava da imagem central ser uma mulher, algo meio divino e leve. Em seguida, fiz As Amantes, uma releitura também de Rider-Waite, mas com um casal de mulheres”, relembra a artista.

E a conexão passou pela necessidade de se sentir representada. Luiza é lésbica, por isso, considerou que a representação seria “forte e bonita”. Já a segunda carta ilustrada, a Estrela, por ela veio a partir da gravidez da sua irmã.

“Os vínculos com as cartas foram sendo assim, de um em um, sem pressa ou obrigatoriedade. Ao mesmo tempo em que pesquisei sobre elas para recriá-las, deixei também certa despretensão em abarcar todos os símbolos: cada recriação é um processo interno meu”, diz.

Luiza acredita na arte como um vetor de transformação social e a usa como instrumento para contribuir com as mudanças que acredita.

“O mundo se modifica constantemente, a sociedade é mutável, acho que as leituras precisam agregas as demandas que essas mudanças trazem. Acredito na importância da arte para as mudanças da sociedade, e se isso fortalece um processo interno, como quando atua em auxílio da leitura do tarot, ela se potencializa”, finaliza.

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