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Mestre Irineu: saiba quem foi o fundador do Santo Daime

Via Santodaime.org

Raimundo Irineu Serra nasceu em São Vicente Ferrer, no Maranhão, no dia 15 de dezembro de 1892, filho de Sancho Martinho Serra e Joana de Assunção Serra, uma católica devota.

De seus pais temos poucas informações. Sabemos que seu pai fora escravo em um grande engenho de cana de propriedade de um grande coronel da região chamado Mariano de Matos.

Sua certidão de batismo indica porém que teria nascido dois anos antes, em 1890. A origem do nome bem poderia ser alguma devoção que o Padre José Bráulio, que realizou o batistério na igreja construída pelos dominicanos, nas cercanias do igarapé Cajapió, por São Irineu, o grande mártir e doutor da igreja do século II.

Apesar de pura especulação poética, bem poderia ser uma coincidência auspiciosa, na medida que São Irineu recebeu influência direta das comunidades ligadas ao apóstolo João, através de São Policarpo, discípulo do mesmo. E alguma coisa na missão do depois mestre Irineu nos remete aos anúncios feito no 4º evangelho sobre o Paráclito, o Consolador Prometido, o próprio Santo Daime por ele descoberto.

Irineu era o primogênito dos seis filhos do casal Sancho e Joana. Os outros irmãos eram Dico, Verônica, Matilde, Maria e Nhá Dica, a caçula. Consta que quando o pai morreu, o padrinho de Irineu, Paulo Serra, irmão de sua mãe, assumiu a educação do menino.

Irineu, como filho mais velho, também teve que assumir algumas das responsabilidades do pai em relação à casa e aos irmãos mais novos.

Consta que Irineu viveu com a família em São Vicente Ferrer até a idade de 12 anos, portanto, até 1904. Neste ano ele passou a residir em São Luís, a capital.

Poucas informações da juventude

Não temos muitas informações sobre a sua infância e adolescência. Ele contava que, quando menino, quando fazia  alguma coisa errada, era disciplinado em sonhos e visões, sendo obrigado a ficar ajoelhado em cima do arroz em casca num grande paiol. E que anos depois quando teve a visão de Clara, ela lhe confirmou ser a causa daqueles corretivos.

Existem alguns relatos de histórias da sua mocidade sobre sua participação nas brincadeiras e folguedos. Ele era um jovem vigoroso, com quase dois metros de altura, corpulento. Inspirava confiança e tinha grande capacidade de liderança. Pelo visto era também muito “arteiro”. Segundos os relatos colhidos, Irineu esteve “noivo para casar” de uma moça chamada Fernanda, filha do Sr. Candido Alípio.

Ele enfrentava uma certa resistência da mãe contra este casamento por ela achar que ele era ainda muito jovem para contrair tal responsabilidade. Um dia ele teria ido aconselhar-se com seu padrinho, Paulo Serra, que lhe teria dito: “Irineu, um homem para se casar precisa antes dar uma volta no mundo, saber quanto custa isto e aquilo, para depois garantir que pode sustentar uma família, etc.”

Mais ou menos por esta época teria se metido numa grande confusão durante um tambor de crioula. Ele tinha sido proibido pela mãe de frequentar este tipo de festa onde havia atabaques, batucadas e muita cachaça.

Mas assim mesmo ele foi, na companhia de seu primo Casimiro, que era quase tão grande quanto ele e se envolveram numa grande pancadaria. Inventaram de cortar com um terçado todos os punhos das redes do dono da casa, derrubaram as portas, a maior confusão. A mãe foi avisada do ocorrido já tarde da noite e foi pedir ajuda ao irmão Paulo, que Irineu muito respeitava.

No outro dia, pela manhã cedo, Paulo foi até a casa da irmã e foi logo perguntando para ela aonde estava Irineu. Quando ele se apresentou, foi recebido com três chicotadas de rebenque na cabeça. Depois que o padrinho se retirou, segundo o depoimento de Aprígio Antero Serra, seu primo, “ele pegou uma calça de saco, uma camisa de brim alfacim, colocou tudo dentro de um saco de trigo e ganhou o mundo; só reapareceu 46 anos depois”.

A peregrinação de Irineu

Talvez a ideia de viajar já estivesse presente no espírito de Irineu, influenciado pelos conselhos do tio e padrinho. Mas sem dúvida foram as três chicotadas que se tornaram o argumento decisivo que o impeliu em busca do seu destino.

O que o levou inclusive, depois dos quase 50 anos, quando voltou a sua terra natal para rever a família, que ele agradecesse ao tio justamente por isto.

Mas no ponto que estamos, o jovem Raimundo ainda não tinha nenhuma noção da grandiosidade do seu destino. Certamente este já influía de alguma maneira, sem que ele suspeitasse. Nem que fosse no desprendimento necessário para tomar a decisão da viagem, para renunciar aos seus laços familiares, a sua terra natal, etc.

É bem possível que, já aí, as forças espirituais e a guia da Virgem Soberana Mãe, que lhe acompanhariam durante toda a sua vida, já fossem operantes, inspirando seus passos e lhe dando forças para seguir e enfrentar as adversidades que ainda estavam por vir.

Ao que tudo indica, tudo isto se passou em 1911, data que Raimundo Irineu Serra embarcou de São Luis para Manaus. Depois de uma passagem breve em Belém, onde chegou a trabalhar de jardineiro para juntar algum dinheiro. Foi para Manaus, onde morou aproximadamente um ano.

Nesta época no mundo (ou melhor na Europa, então considerada o mundo), ruía a chamada belle époque, a relativa paz do final do século 19 e começo do século 20 e as expectativas criadas pelo credo positivista e a crença de que o progresso material traria o aperfeiçoamento moral e o progresso para a humanidade. Já se viam os prenúncios da Primeira Guerra Mundial, engendrada justamente pelos conflitos de posse das nações industrializadas sobre os mercados coloniais.

Manaus, porém, estava no auge do seu esplendor. Récitas de Caruso e peças teatrais de Sarah Bernahdt, os grandes artistas da época, aconteciam no luxuoso teatro da cidade. Euclides da Cunha, após a reportagem sobre Canudos e a jovem república, iniciava sua expedição pela Amazônia, o Inferno ou Paraíso verde, dependendo do ponto de vista.

Seguramente para a burguesia opulenta que frequentava o Teatro de Manaus, a Amazônia era um paraíso. Já para os imigrantes nordestinos que iam em busca de riqueza, como o jovem Irineu e seus conterrâneos, a situação era bastante diferente.

Logo caiam em si do inferno que era para os seringueiros os rigores da empresa seringalista, que devido a sua alta rentabilidade, depois da eclosão da guerra, impulsionou um setor altamente dinâmico na economia nacional.

A vida no seringal

Raimundo Irineu Serra, depois deste ano em Manaus, embarcou em um navio em direção ao recém anexado território do Acre. Consta que ainda fez pequenas paradas em Itacoatiara e Eurinepé. Chegou em Xapuri no dia 14 de março de 1912.

Permaneceu nesta cidade às margens do rio Aquiry por cerca de 2 anos. Recém-chegado à nova vida de seringueiro, Irineu veio a relatar muito tempo depois uma história que revela de forma exemplar o seu caráter.

Quando ele chegou de Manaus e chegou no seringal Nossa Senhora do Bom Futuro, para ser destinado a uma das colocações, como era de praxe, o anotador do barracão foi confeccionar a nota das mercadorias e utensílios que ele deveria levar.

Conversador, ele perguntou da procedência de Irineu, que contou ser maranhense. O anotador logo acrescentou que todos os maranhenses que conhecera eram sabidos e perguntou se ele sabia escrever.

Irineu, segundo contou anos depois, para não desmerecer o seu estado, disse que sim. Mas logo depois, quando o homem foi embora, foi acometido de uma crise de consciência, que o levou a pedir ao amigo uma carta de ABC para que ele pudesse estudar e cumprir com o que tinha afirmado.

Em 1914 mudou-se para Brasiléia, perto de Cobija, onde passou a trabalhar no seringal Nossa Senhora do Bom Futuro, próximo à fronteira boliviana. Foi nestas paragens que conheceu os irmãos Antonio e André Costa, maranhenses como ele. E a partir destes conterrâneos, foi que o negro, gigante e trabalhador Irineu iria iniciar um novo capítulo da sua história, que o transformaria no Mestre Irineu que todos nós conhecemos e reverenciamos.

Homem e mito

Neste ponto da nossa história, os relatos puramente biográficos, de reconstituição dos fatos e incidentes triviais que levaram Irineu ao seu encontro com a ayahuasca, sofrem um divisor de águas. A partir deste encontro, alem da história concreta, entramos também no território do mito. Os relatos vão se agrupando, condensando, passando pelo testemunho de diversas gerações, num processo não isento de contradições.

Os relatos de primeira mãos, as lembranças do próprio Mestre, contadas na intimidade de uma roda de discípulos no alpendre de sua casa, ganham diversas tonalidades pedagógicas ou moralizantes, de acordo com as intenções dos novos interlocutores.

A história real é idealizada pela criação anônima e coletiva da fé de milhares de pessoas que conviveram e se beneficiaram da presença de um homem santo.

E isto não é nem condenável nem sequer menos real e verdadeiro. Pelo contrário, é graças a este tipo de processo que a trajetória dos grandes vultos encarnados deixam suas sementes para a posteridade. E através desta linguagem, misto de realidade e mito, seus ensinos são mais facilmente compreendidos e suas sementes frutificam.

Encontro com a ayahuasca

Segundo a tradição, foi portanto a partir de 1912, no mais tardar início de 1913, que Irineu, já entrosado com Antônio Costa, que era regatão e o visitava com certa frequência em sua colocação, começou a se interessar pela ayahuasca.

Provavelmente, o início de sua iniciação na bebida teria sido em 1914, quando, enfim, Antonio Costa o teria levado para uma sessão com um xamã peruano.

Depois passaram a tomar o chá juntos na mata, por ocasião das visitas do regatão à sua colocação, a última moradia do seringal. Nesta sequência de trabalhos, onde aconteceu o contato com Clara, seguiu provavelmente até 1917, quando o então recém-iniciado Irineu seguiu para Sena Madureira.

Porém, antes disto, ele conseguiu, graças a sua extraordinária capacidade de trabalho, acertar as contas com o patrão e foi morar na cidade de Brasiléia.

Juntamente com Antonio e agora com um novo personagem, André Costa, seu irmão e comerciante na cidade. Juntos eles criaram o CRF (Círculo de Regeneração e Fé), que perdurou ainda alguns anos depois da partida de Irineu para Sena Madureira. Em 1921 foi fechado pelas autoridades locais, numa onda de perseguição.

A partir dai existe uma linha de histórias que derivam dos relatos do próprio Mestre Irineu aos seus seguidores mais próximos, que por sua vez já passaram estes relatos para a outra geração já dentro dos processos constitutivos do próprio mito, que não nos cabe diferenciar aqui.

Várias versões e uma doutrina

O que queremos enfatizar é a sua trajetória espiritual e o tempo relativamente recente em que esta história se desenvolveu, o que ainda nos permite traçar suas linhas mestras com clareza. Mesmo a ocorrência de algumas historias aparentemente contraditórias sobre o primeiro contato de Irineu com a ayahuasca, não chegam a inviabilizar a base comum que existe entre elas.

Porém, em relação ao momento crucial do encontro de Irineu com a bebida, parece bastante mais factível a versão que conta sua ida em alguma sessão ayahuasqueira, onde se chegava até a fazer chamadas do Diabo e onde ele viu as cruzes se multiplicando, do que a outra versão mais lendária, onde ele teria sido iniciado junto a um xamã de nome Crescêncio Pizango.

Nesta versão, ele teria obtido o reconhecimento do espírito do curandeiro na cuia onde Irineu e seus companheiros estariam bebendo a ayahuasca. Sem dúvida, ambas as versões passaram a ser citadas posteriormente pelos discípulos do mestre e de alguma maneira representam duas etapas distintas do seu aprendizado e iniciação.

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Conclui-se que, posteriormente a este contato, foi que ele, na continuidade das sessões desenvolvidas junto aos irmãos Costa, ainda cortando seringa na selva, teve o memorável encontro com a senhora de nome Clara, numa noite de Lua Cheia.

Este parece ser, sem dúvida, o fato estruturante, o marco zero da missão do mestre Irineu e o início da Doutrina. Com pequenas variações, os relatos se referem a uma visão que tomou forma corpórea e a partir da qual, o recém-nomeado mestre foi recebendo as instruções e aconselhamentos que o fizeram o fundador de uma missão espiritual.

Data dai a entrega feita pela rainha do seu primeiro hino, Lua Branca, quando o ‘persuadiu’ para que balbuciasse as estrofes que ela lhe estava inspirando naquele momento e que ele, dentro de sua timidez, julgava ser incapaz de fazer. Este belo hino abre não apenas o seu hinário do Cruzeiro, como inaugura a forma de recepção de hinos, que é marca registrada de todo o trabalho espiritual que se segue.

Durante as andanças realizadas enquanto era o guarda valores da Comissão de Limites (que ‘cuidavam’ das fronteiras), é bem provável que Irineu tenha obtido novos horizontes em relação à ayahuasca.

Pois é seguro que tenham tido contato com diversas aldeias da região ocidental da Amazônia que já faziam uso imemorial da ayahuasca. Alguns resquícios destes contatos podem estar contidos nos hinos que falam dos caboclos, das entidades da floresta e outras chamadas que eram empregadas de forma mais parcimoniosa.

A chegada dos amigos

Uma nova etapa se abre na sua história quando ele, voltando de todas estas andanças, senta praça na guarda territorial de Rio Branco.

Neste tempo é que conhece seus primeiros companheiros, Guilherme Germano (o maninho, seu colega de farda) e José das Neves.

Consta que antes dele iniciar oficialmente seus trabalhos, costumava, nos dias de folga, ir para mata preparar a bebida e realizar sessões com eles.

Apenas em 1931 os trabalhos foram oficializados já na na Vila Ivonete, onde o mestre residia. Temos alguns relatos dos primeiros trabalhos, que eram feitos com seis hinos do mestre e alguns do Germano, que iam sendo repetidos até o raiar o dia. Outros companheiros chegaram depois como Maria Marques, João Pereira e Antonio Gomes.

Quando o mestre se mudou para o Alto da Santa Cruz, teve início uma nova fase da expansão da Doutrina, com a chegada de novas famílias. A sua fama de curador, rezador e de orientador espiritual foi tomando corpo a ponto dele ser procurado e reconhecido por pessoas influentes da sociedade local, incluindo autoridades do governo e políticos.

Os trabalhos foram sendo aperfeiçoados sempre segundo as orientações que o mestre recebia em suas visões e mirações da rainha. A primeira farda era confeccionada com brim caqui, com dólmã e um chapeuzinho tipo turco.

Neste processo de consolidação do seu hinário e do próprio ritual, teve muita importância a figura de dona Percilia, uma espécie de filha adotiva do mestre e que era professora. Era a ela que ele recorria para por em linha de instrução os próprios hinos que recebia.

Inicialmente os trabalhos eram basicamente os de concentração e das cantorias nos dias santos. Depois foram instruídos os trabalhos de cura e a reza do exorcismo.

Já na década de 1950, depois da separação do mestre da sua terceira mulher, dona Raimunda (ao que consta devido aos constantes atritos que ele tinha com a sua sogra), ele se casou com a jovem Peregrina Gomes.

Pouco depois, empreendeu uma viagem ao Maranhão, como já vimos, para rever os parentes. De lá trouxe seus dois sobrinhos Daniel e João Serra.

Ele mesmo contou que durante a viagem, no convés do navio, tomando Daime teve muitas mirações. Teria sido nesta época que recebera o hino Fortaleza e a nova farda que ainda hoje se constitui na farda oficial dos seus trabalhos.

Depois de sua volta desta viagem ao Maranhão e em toda a década seguinte é que ampliou-se consideravelmente o seu círculo de discípulos: Loredo, Chico Granjeiro, Tetéo, Luis Mendes, Sebastião Mota de Melo, etc.

Foi durante esta época que também se consolidaram as outras ramificações principais da ayahuasca, como a UDV (União do Vegetal), do mestre José Gabriel da Costa, em Porto Velho, e a Barquinha, do mestre Daniel Pereira de Matos, também em Rio Branco. Mas data igualmente desta mesma época o início dos preconceitos e as perseguições contra o Daime. Mesmo com a sua reputação e costas quentes, o mestre foi alvo de intolerância, falatórios e infâmias.

Doutrina e legado

A nova sede foi inaugurada em meados da década de sessenta, aproximadamente. Do final dos anos 1960 para o início dos anos de 1970, o mestre recebeu os hinos novos ou Cruzeirinho.

Seu nome era uma referência obrigatória dentro do Estado do Acre e sua Doutrina tinha granjeado, no que pese as eventuais campanhas difamatórias, um reconhecimento por parte de parcelas crescentes da população.

Em 6 de julho de 1971, às 9h da manhã, ele faleceu na sua rede. Seis meses antes tinha estado bastante enfermo.

Como disse no seu penúltimo hino, os pedidos foram tantos, que ele voltou e obteve uma prorrogação.

Nestes seis meses que teve antes de agravar novamente sua enfermidade, marcou o local onde gostaria de ser enterrado e anunciou de certa forma seu passamento no seu último hino, Pisei na Terra Fria.

O enterro foi um acontecimento na cidade. Ainda em vida, o mestre passou a direção dos trabalhos para o senhor Leôncio Gomes.

E assim a história continuou…

Veja fotos do mestre Irineu

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