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Petria Chaves: conheça a história da jornalista que ajudou a ‘espiritualizar’ a grande imprensa

Por Caroline Apple

Petria Chaves é âncora do Revista CBN. Foto: Arquivo Pessoal

Quantas vezes não ouvimos reclamações de pessoas que estudaram nos famosos “colégios de freira” por viverem histórias de repressão e terem que conviver diariamente com as normas de conduta dentro de um espectro ‘rígido’ do catolicismo?

Pois bem, para a jornalista Petria Chaves, de 38 anos, âncora do Revista CBN, na Rádio CBN, nada disso era um problema. Pelo contrário. A estética religiosa a encantava e inspirava. Vestimentas, silêncio e a filosofia de padres e freiras eram alvo de interesse da então pequena Petria, que cresceu sensível às questões espirituais e holísticas e cheia de vontades que destoavam da maioria das meninas de sua idade.

Em entrevista ao Namastreta, a jornalista conta que, aos dez anos, seu sonho era fazer seu mapa astral, mas, ingenuamente, acreditava que não podia, por conta da tenra idade.

Os interesses por esse universo sutil brotavam dentro dela de forma natural. Seu amor pela leitura a fazia debruçar na escola sobre os livros de filosofia e história. Paixões platônicas por seus professores eram comuns tamanha sua admiração por aqueles temas materializados naquelas pessoas.

Dentro de Petria pulsava uma verdade e um ecumenismo germinava. Aos 15 anos, a então adolescente abriu mão da tradicional festa de debutante, que considerava uma “babaquice”, e foi parar nos EUA na casa de uma prima que, até então, na cabeça da jovem, morava na agitada e cosmopolita Nova York. Mas a coisa não foi como ela planejava. E ainda bem!

Uma viagem…para dentro

Ao chegar no aeroporto, Petria e sua tia, que a acompanhava, foram recepcionadas pela prima que de cara soltou a bomba: sua casa ficava a duas horas da badalada cidade que povoam os filmes hollywoodianos. A decepção foi inevitável. Mas o que a adolescente não sabia era que algo muito maior do que compras e passeios em centros turísticos a aguardava.

A estética religiosa sempre chamou a atenção da jornalista. Foto: Arquivo Pessoal

A casa da prima ficava dentro do Siddha Yoga Meditation Ashram, em Manhattan, da guru Gurumayi Chidvilasananda, a mesma figura que Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar e Amar procurou no ashram na Índia durante sua busca por autoconhecimento, mas sem sucesso. O calendário da guru alterna suas estadias em centros como o norte-americano e o indiano.

Mas, para a surpresa de Petria, a guru estava nos EUA naquele momento, então a experiência foi “definitiva”. Mantras, vestes, meditação, vegetarianismo, silêncio, a forte presença da guru são somente alguns exemplos do que se apresentou para adolescente, que vivia um momento de descobertas ocidentalizado que passava longe do equilíbrio e de escolhas, digamos, mais saudáveis.

Em um encontro com a guru, que Petria teve a chance de participar, a adolescente recebeu um darshan, uma benção pessoal recebida de um mestre. Diante disso, não tinha para onde correr.

Foi então que em vez de voltar para casa com a mala cheia de roupas ou quinquilharias e eletrônicos comprados na 5ª Avenida, Petria trazia na bagagem de mão livros e fitas de mantras e na bagagem pessoal muitos ensinamentos que permeariam sua jornada até os dias de hoje.

As dores do mundo

Trilhar o caminho pelo jornalismo foi algo que fluiu tranquilamente para Petria. Já na faculdade, a “foca” (como são chamados os estudantes de jornalismo) fazia parte da rádio universitária e da TV Gazeta. Logo foi contratada no Climatempo, Record, TV Globo e, enfim, a Rádio CBN.

A jovem jornalista de vinte e poucos anos chegou no meio de um tsumani, literalmente. O ano era 2004. A Indonésia vivia uma das maiores catástrofes naturais da história mundial. A milhares de quilômetros do epicentro da tragédia, Petria fazia a cobertura jornalística.

A tristeza diante de tantas mortes era iminente. Na sequência, o PCC (Primeiro Comando da Capital) fazia toque de recolher em São Paulo. Tomar “as dores do mundo” não foi difícil para uma pessoa que carrega em si a sensibilidade.

Para se firmar, Petria passou a frequentar um pequeno espaço onde aconteciam giras de Umbanda. Mas foi lá que ouviu que do pai da casa que seus dias naquele terreiro estavam acabando e que logo a jornalista encontraria seus “mestres do oriente”.

A primeira reação foi negar. A jornalista gostava do ambiente, a estética espiritual seguia a encantando. Mas em pouco tempo o trabalho a consumiu exatamente nos dias e horas em que os encontros aconteciam.

Seu distanciamento foi natural, mas perceptível. As palavras do umbandista ressoavam em sua cabeça. Mas Petria aceitou o que estava sendo apresentado pelo universo, mesmo o processo pesando cada dia mais.

Caminho alternativo no rádio e na vida

Falar de vida era uma das metas da então repórter. Foto: Arquivo Pessoal

A jornalista começava a sentir no corpo a dor das tragédias que relatava no dia a dia, por isso, esmorecia diante de tanto sofrimento. A decisão estava, de certa maneira, tomada dentro dela: não queria mais falar de morte e não sentia que tinha ferramentas para continuar suportando a cobertura de tantos casos ‘pesados’.

Então, Petria começou a ponderar sua saída da rádio. Durante esse processo, a jornalista se aproximou da, então, colega de trabalho Fabíola Cidral, com quem dividiu a pressão que sentia ao falar só sobre morte e crise. Ela queria falar de vida, do lado mais alegre, subjetivo e filosófico da existência.

Mas não era só de Petria essa necessidade. Ao se abrir para Cidral sobre a vontade de sair, recebeu uma proposta: ficar na rádio caso conseguisse emplacar na grade da Rádio CBN um programa que abordasse temas mais leves.

Nascia a partir de um encontro regado a uma garrafa de vinho o programa “Caminhos Alternativos” (mesmo ainda não tendo esse nome), que tinha a proposta de levar para o ouvinte personagens como politicos e economistas, por exemplo, contando como fazia para tornar a rotina menos estressante.

No mesmo dia que o programa foi desenhado, as jornalistas enviaram para a diretora da rádio na época, mas de forma despretensiosa. Foi então que a resposta surpreendente chegou: “quando começamos?”. Em dois meses, Petria e Fabíola começavam as gravações e trilhavam um caminho alternativo, tanto na vida pessoal quanto no trabalho.

Os mestres do oriente

Yoga, meditação, silêncio e muito mais em busca do vazio. Foto: Arquivo Pessoal

No dia 26 de julho de 2008, a dupla foi gravar o primeiro programa em um ashram na Serra da Cantareira, em São Paulo, onde iriam vivenciar uma aula de ashtanga yoga e uma prática de kryas (espécie de limpeza nasal, por onde entra o a vida, o prana, o ar).

O nervosismo tomou conta de Petria e nem ela entendia o motivo. Ela só sentia que estar ali era algo muito importante, como se um portal estivesse sendo aberto. E estava mesmo. O mestre que encontrou naquele local se tornou seu mestre e, até hoje, é ele quem ministra as aulas de ashtanga para a jornalista.

Chegavam então os tais “mestres do oriente” que o umbandista havia cantado a bola tempos atrás.

Petria dividia a ancoragem do Caminhos Alternativos com a função de repórter em horário nobre, sobrevoando a cidade e levando informação para os ouvintes. Eram três dias na reportagem e dois dedicados à “menina dos olhos” da jornalista.

Além dessa dupla jornada, as apresentadoras enfrentavam outros desafios: a opinião dos colegas. Não era difícil ouvir que o programa era “alegoria” e “perfumaria”, além de apelidos como “programa incenso”.

Mas como o mundo não gira, capota, o Caminhos Alternativos se tornou o programa de maior audiência da CBN. As jornalistas vivenciavam as pautas, discutiam, se envolviam. Os episódios se tornaram pequenos documentários. Os assuntos tratados por elas eram raros na grande imprensa, como regressão e até o, hoje, famoso suco verde, que, em 2008, poucos abordavam.

Todos os anos, a CBN promovia o Escola da Vida, um programa com plateia apresentado por Petria e Fabíola. E foi nesse paralelo do Caminhos Alternativos que surgiram para o grande público nomes ainda tímidos como Mario Sergio Cortella e Monja Coen. Como temas do programa, mais inovação: antroposofia, homeschooling, pedagogia waldorf e muito mais.

Estudo fino: desapego

O programa era um sucesso. Petria e Fabíola colhiam os frutos. Entrevista no programa do Jô, premiações, reconhecimento e aplausos, mas, a vida é puro movimento. A jornalista não queria ficar atrelada apenas ao Caminhos Alternativos, ela queria e sempre quer mais. Uma insaciável buscadora de experiências.

As vivências que a dupla viveu foram intensas e transformadoras. Era o trabalho da matéria aliado ao trabalho espiritual, ali, tudo junto, de uma vez. Portanto, a transformação era inevitável e os princípios da impermanência começavam a bater na porta depois de nove anos.

Ambas engravidaram. Os questionamentos sobre o sentido da vida se renovavam, então, sentiram que haviam cumprido com seus papeis à frente do programa: abrir portas para esses temas na grande imprensa.

Então, em 2017, o último episódio foi ao ar. A convidada era a Monja Coen. O tema: desapego. Perfeito, propício. E assim se encerrava essa jornada.

Mas, quando algo se encerra significa que outro momento se abre. O Revista CBN estava sob sua ancoragem desde 2014 e foi nele que Petria passou a levar as reflexões que acredita ser importantes para a construção dos seres e da sociedade.

Política, filosofia e espiritualidade em formato de ondas de rádio inundam o dial dos ouvintes sempre atentos às dicas e informações levadas por ela.

Para a jornalista, uma vida só “namastê” tem uma estética vazia. Petria segue num eterno desvendar. É olhar para vida com a perspectiva do que pulsa, do que vibra, sem deixar de olhar para as sombras. A cura, para ela, é pela célula, que livre tem a chance de se lapidar, mas não para ser diferente, e sim para fazer diferente!

Namastretahttps://namastreta.com.br/
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5 COMENTÁRIOS

  1. Era ouvinte das meninas e xmxva Os Caminhos. Eu ja trilhava há tempos muitos deles mas a alegria das se cobertas delas transpareciame me alegravam. Gosto de mais da Pereira e a admiro muito como profícuos e mulher. Parabéns a ela a vcs e agora sou seguidora de Namastreta.💋💋da septuagenária

  2. Boa Noite Gostei muito da Entrevista com a Petria Chaves, sou sua fã do seu Programa Revista CBN, mas já era quando ela fazia o Programa Caminhos Alternativos, A Petria é uma ótima Profissional e uma boa comunicadora. Parabéns pela Entrevista. Cleia F. Rey

  3. Não conhecia sua história. Na verdade admiro e ouço a Fabíola (diariamente) e a Petria (fim de semana) há pouco tempo.
    Sou do interior da Paraíba (Sumé, 380 km da capital Joao pessoa), um município com 16 mil hab. Sou pioneira no rádio aqui em minha cidade e, embora não atue há mais de 10 anos, desde meu início nessa área, sempre me inquietei com aquilo que as inquietava. Sempre imaginei que era (e é) possível sim, noticiar situações doloridas com suavidade e, se não possível, pq não detém muito a audiência, apresentar o outro lado dessa notícia: o das emoções. Hoje, por continuar inquieta com o que ouço em nível regional, acompanho a CBN BRASIL (uns 7 meses) e o meu encontro com elas é sempre encantador, de muita alegria e paz. A Fabíola diariamente comigo no trabalho e a Petria, nos fins de semana em minhas tarefas domésticas. É indescritível o que sinto e penso quando a ouço, mas é bom, porque me deixa em paz. Desejo amor e paz. Muito obrigada pelo que fazem por nós, ouvintes CBN.

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